Eu odeio minha mãe. Odeio a forma como ela fala comigo, mas também odeio quando ela não fala comigo. Odeio quando ela me trata mal e odeio quando me trata bem, porque não me sinto merecedora daquilo. Odeio como ela me pragueja e como fala pelos cotovelos, dizendo que a pior decisão dela foi ter filhos. Odeio quando ela diz que me odeia e odeio as poucas vezes que fala que me ama.
Odeio os abraços dela, o olhar de desgosto e as desculpas que ela dá. Odeio a preferência que ela demonstra pelos meus irmãos e as coisas horríveis que saem da boca dela quando se trata de mim. Odeio quando ela coloca os problemas dela acima dos meus e quando eu tenho que fingir que me importo com ela.
E, por fim, odeio como tenho tantos motivos para odiá-la.
Mãe: uma figura que, inicialmente, deveria ser associada a sentimentos como amor, carinho e segurança, mas que, para mim, virou sinônimo de ódio, tristeza e amargura. Eu odeio sentir isso, mas, mais ainda, odeio sentir isso por ela — alguém que, infelizmente, eu amo tanto. Irônico, né? Ainda assim, depois de dizer tudo isso sobre ela, de pensar tudo isso e de sentir tudo isso, eu ainda a amo. Amo muito. Eu dependo dela.
Sempre pensei que conseguiria enfrentar qualquer pessoa, e consigo... menos ela. Ela não. Ela me faz sentir culpada, deslocada, melancólica. Ao mesmo tempo em que consegue me fazer repensar tudo o que um dia acreditei ser amor, ela me faz repensar tudo o que já acreditei ser ódio. Ela me faz sentir minúscula perto dos meus irmãos, como se, apesar de ser a mais velha, eu não fosse nada. Sou apenas mais uma das transas que resultaram em um erro, que, depois de nove meses, veio ao mundo. O único erro dos três que ela teve.
Às vezes, me pego pensando: onde foi que eu errei? Ou se sequer fui eu que errei. Vivo em uma linha tênue entre culpar e ser culpada. Fui eu que, um dia, tive uma atitude tão ruim assim, a ponto de fazer tudo estar como está agora? Ou será que ela é a culpada por ser uma irresponsável que não sabe o que é amar? Mas, se ela não sabe o que é amar, por que ama meus irmãos? Ama seu marido, ama sua mãe...
Sua mãe. Uma mãe que a tratou como ela me trata agora. Uma mãe que disse as coisas que ela me diz agora e que deixou as feridas que ela me deixa agora. Apesar de sermos tão iguais, ainda somos muito diferentes. E apenas uma coisa nos deixa tão distintas assim: o perdão. Ela conseguiu perdoar. Eu não. Eu não consigo. Por mais que eu tente, não consigo vê-la como uma pessoa que também está vivendo pela primeira vez. Porque não é apenas ela que está vivendo pela primeira vez. Eu também estou. Eu também estou vivendo pela primeira vez. Eu também estou sofrendo a rejeição pela primeira vez. Por que ela não entende isso? Por que só eu tenho que me desculpar e pensar nas consequências do futuro, enquanto ela segue ilesa, por ser mãe, por ser "sagrada"?
Ela disse uma vez que se arrependeu das coisas que fez comigo, mas sinto que temos uma percepção diferente de arrependimento. Eu me arrependo e mudo. Ela se arrepende e parece que volta pior. Quando pergunto o que ela quer de presente de aniversário, ela pede uma filha melhor. Eu peço um "eu te amo" e um abraço. É realmente... somos diferentes. Muito diferentes. Só temos uma coisa em comum: o ódio e a tristeza que carregamos uma da outra.
Oh, céus, estrelinha! Essa leitura com certeza me fez torcer por um desfecho menos doloroso. Infelizmente temos duas vias que não podemos comparar, se tornar mãe e se tornar filha. Ambos em muitos casos é doloroso, pois a mãe nunca aprendeu a ser mãe e tente sobreviver nesse papel que foi imposto nela (devido a escolhas). Mas também temos a filha, um ser que nasce e que nunca conheceu o mundo, é a primeira vez sendo filha daquela mãe. O resultado é sempre um choque muito forte e quase desgastante, mas o melhor a se fazer nesses casos é entender que sua mãe esta tentando sobreviver de si mesmo sendo assim contigo, É CRUEL E É INJUSTO! mas o ser humano não é perfeito, cada um ter uma força e modo de enfrentar seus demônios. Você esta indo por um caminho bom, estrelinha, sei que fica entre o amor e o ódio, isso é o bastante, na vida temos muitas pessoas que podemos ver como mães, não se apegue somente a ela. Ame e a respeite como sua mãe, mas chega de se auto machucar por ela e se torturar em perguntar onde errou, não deixe que esse ciclo germine dentro de si, minha estrelinha. <3
isso foi muito Elena Ferrante da sua parte